Trabalho com escrita criativa. Mas o dia a dia do meu trabalho limita a minha busca pelas ideias.
Poderá a criatividade funcionar on-demand?
CÉREBRO DE LEBRE, MENTE DE TARTARUGA
Quando comecei a trabalhar com escrita criativa, fiz do livro Criatividade – Um guia prático e divertido, de John Cleese, a minha bíblia. Descubra mais publicações deste autor: https://www.goodreads.com/author/list/11777.John_Cleese
Foi esta obra que me apresentou a uma teoria formulada por Guy Claxton: “Cérebro de Lebre, Mente de Tartaruga”.
Proponho aos meus leitores que me acompanhem no desconstruir desta dicotomia. Por um lado, o cérebro de lebre permite-nos compreender questões, pesar prós e contras, elaborar argumentos e resolver problemas. É o nosso lado racional, um modo de pensar que ativamos quase inconscientemente. Por outro, a “Mente de Tartaruga” é apresentada como uma forma de pensar mais lenta, menos intencional, mais lúdica. É, em suma, o nosso lado sonhador e também aquele que sustenta a criatividade.
MENTE DE TARTARUGA: O FERMENTO DA CRIATIVIDADE
É fácil ter tendência para desvalorizar a “Mente de Tartaruga”, associando-a algo da ordem da divagação, algo adverso à produtividade. Acontece que a escrita criativa requer este espírito de brincadeira. Para ir buscar ideias, é preciso entrar num estado quase meditativo, deixar-se ir, transitar para outro ritmo, adotar uma posição mais passiva e observadora do mundo ao redor. Para ser criativo, preciso abrir espaço à “Mente de Tartaruga”, e isso exige tempo. Ora, tempo é o bem mais escasso de quem trabalha em agência.
ESCRITA CRIATIVA EM CONTRARRELÓGIO
Neste ritmo frenético que pauta o dia a dia dos criativos, a “Mente de Tartaruga” torna-se numa utopia e vê-se canibalizada pelo “Cérebro de Lebre”, como resposta à urgência dos pedidos.
Eu, por exemplo, levei longos meses a escrever o presente artigo. Abrandei o ritmo, divaguei, viajei pelos caminhos ramificados do pensamento, para conseguir explorar cuidadosa e minuciosamente cada ideia. Mas isso só foi possível porque o pedido me foi feito com antecedência, deixando-me tempo para saborear a “Mente de Tartaruga”.
O caso muda de figura quando um cliente pede uma campanha de angariação de seguidores de hoje para amanhã. Se o tempo é curto, impõe-se um processo criativo mais reativo e menos contemplativo.
A LEBRE E A TARTARUGA: UM DILEMA
Dizem os entendidos que, até se encontrar aquela ideia, o caminho é feito de uma constante dialética entre o “Cérebro de Lebre” e a “Mente de Tartaruga”: deixar-se divagar por um tempo, e depois deitar um olhar analítico sobre o que foi feito, de modo a filtrar as ideias. E repete-se este jogo até obter um resultado satisfatório.
E como é que se conjuga este processo tão moroso, sem atrasar o passo acelerado que exige o trabalho em agência?
Se a “Mente de Tartaruga” é tão fundamental para a escrita criativa, mas, parece tão difícil de aplicar à realidade, fico perante o seguinte paradoxo: o meu trabalho requer criatividade ao mesmo tempo que a limita. As circunstâncias do quotidiano tolhem a “Mente de Tartaruga” e, por conseguinte, a originalidade das ideias.
Ao fim de alguns anos a maturar este assunto, ainda não consegui encontrar uma conclusão construtiva para este artigo. Isto é um pedido de ajuda. Todos os contributos para me ajudar a resolver este impasse serão muitíssimo bem-vindos. Partilhe as suas ideias conosco.
Escrito por: Francisca Berger Cabral